Sem água não há vida. Uma planta sem esta fonte, seca, envelhece e morre.
Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins
dos Guimarães Peixoto Bretas, (1889 - 1985), poetisa, contista e doceira,
é considerada uma das principais escritoras brasileiras, disse em uma das suas
belezuras da escrita que: “Nada do que vivemos tem
sentido, se não tocarmos o coração das pessoas”.
Mas será que
estamos com vontade ou tendo tempo para tocar os corações das pessoas, regar
com essa água?
Além da água, a vida
tem outros combustíveis, em suas várias formas - podem ser de médio e longo prazo. Mas estão
aí, todos os dias. São inúmeros: que nas belas palavras da poetisa,
foi tratado como movimento. Temos os sonhos,
a esperança, as conquistas, as lutas, os fracassos, o amor e por ai vai. Mas
vamos falar de um combustível essencial, que na minha visão é tão essencial
como a água. O afeto; mas em médio
prazo. Ou agora mesmo.. risos!
Já reparou que os
ponteiros do relógio estão cada vez mais rápidos?! Pisquei, e já foi ontem. E hoje,
corri, corri, e, cá estou esperando o amanhã, cheio de obrigações. E pasmem, para correr mais. Fazemos tudo muito
rápido. Como o tempo voa, e as obrigações multiplicam, seja qual for o nosso
estado de espírito.
Acabamos deixando
o afeto guardado no fundo de uma gaveta.
E ele está ficando amarelado, como o nosso sorriso entediado de tantos
compromissos. Será que queremos tocar o coração de alguém com um bom dia? Um sorriso para o seu vizinho? Quem sabe,
naquele beijo sem a pressa de bater o cartão. Um eu te amo, sem segundas
intenções, ou um agrado sem que seja aquela data especial, a da convenção econômica
mesmo. Um oi mãe, saudades! Uma bênção meu pai, nossa, como eu te amo, - sem
pedir aquela mesada!
São tantas formas
de demonstrar carinho, que é uma pena que deixamos isso de lado no cotidiano.
Certa vez, uma mãe comentava com uma amiga de que a filha mal a cumprimentava.
“Sinto muita falta da minha filha, mas agora estou me acostumando, ela não quer
conversar comigo, não vou insistir, acho que estou anestesiada desse afeto”. Fiquei
com pena, e pena de também de acostumar com tal situação. Manheeeeeê!
Acostumamos com quase tudo nessa vida, até mesmo com a dor. Imaginem só a
dor dessa mãe no apagar das luzes.
A falta de afeto, trás dor no peito. Angustia e uma pontada que nos tira o
ar. Mas, vamos vivendo, num é. No correr dos ponteiros, podemos perceber que demonstrar
afeto, nos faz perder tempo. Já nem dói, e como a picada da insulina. Estamos tão envolvidos com o mundo,
que nos condicionamos a banalidades, ou compromissos que nos fazem ficar como
robôs.
Perdemos um tempo na Internet do que brincar com nossos filhos. Prefiro
perder o meu tempo no bar, com os ” amigos” , do que sair com a família. Os estudos me assoberbam, mas esquecemos de
outras coisas que também precisam de nossa dedicação. Fico umas três horas
vendo televisão, ou na internet, ou até mais, mas não gasto um minuto para falar com
meus avós, dedico à leitura, mas não um fim de semana com meus pais, interajo
com todos, mas não consigo sentar e conversar por alguns instantes com meu
filho. Pra quê dar bom dia para o porteiro todos os dias mesmo?
Estamos virando robôs?
Cora estava certa, nos acostumamos de fato com aquilo que não nos incomode.
E que sentido tem se não tocarmos o coração de alguém? Preciso de
água.
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