O fechamento de discurso que contorna o cenário
político diante das circunstâncias que vive o governo federal - pode desarrumar o
arranjo que é frágil e pode ser quebrado. São falas e suas várias formas, muito
debatidas, sobre a Presidência da República, desde o final das eleições, que parecem
não ter terminado até hoje. A
configuração pode ser de um isolamento e uma franja no sistema, que trabalha
ativamente para o pleito
municipal que bate à porta, chave
importante para 2018.
Na visão de
muitos cientistas políticos, o Legislativo não tem uma bancada de posição. E o ajuste
fiscal, anunciado como válvula de escape, pode ser o que os oportunistas
esperam, diante da fragilidade do sistema. Nas entrelinhas de negociação, em que a política atua 24 horas, com a chamada “manipulação empresarial, o discurso manuseia o signo através de uma narrativa marcada
por estereótipos e incoerências semânticas.
A sombra da foto da presidenta Dilma Rousseff com a
nova silhueta, dita, no sentido
pejorativo, como dieta de Ravenna - uma proposta de emagrecimento a
partir de alteração dos hábitos alimentares, acompanhada de um processo
psicológico para a mudança - vai bem ao encontro com o que dizem especialistas
em significados e significantes.
Estudiosos destacam, no saber antigo da semiótica, a
possibilidade de encontrar respostas do modo significativo do homem e dos que o
rodeiam. Na foto em questão, ou na
tentativa de explicar a forma mais “enxuta“ da presidenta, podemos falar de perdas de
comando, falta de agenda, gordurinha localizada, e dos rompimentos - puxando
pela memória mais recente, dos que romperam, mas nunca estiveram lá, a não ser
pelo próprio salvo-conduto. Um cardápio farto dentro da metalinguística.
O fundador da
linguística moderna, Ferdinand de Saussure, dizia que o signo é o resultado de significado mais significante. Então, dentro do aspecto básico
da doutrina saussuriana, podemos dizer que, quando observamos a foto, percebemos que ela tem a união
de significado e significante, dentro, é claro, dos exemplos dos signos
linguísticos.
Para ficar mais ambíguo: sabemos
que a linguística pode ser sincrônica ou diacrônica. A
primeira estuda a língua em um dado momento, e a diacrônica, por sua vez, a
língua através do tempo.
Voltemos à foto. O que se foi com a dieta milagrosa soa como um tão falado “divórcio
anunciado”, embalado também pela citação,
quase populista, do desgaste de uma relação? Seria a perda da atual situação em que se
encontra a presidente? Ou foi o que ela tenha dito? Ou não? Seria a mandioca? A meta sem meta? Será que foi o que
não foi, ou foi o que não foi feito? Seriam sincrônicos ou diacrônicos os quilos para mais
ou para menos?
Olhando a sombra magra, diante do Palácio da Alvorada,
nesse quase meio ano de segundo mandato, pode ser que não tenha mais tantos
admiradores e já não seja tão populista. Como a gordurinha que ficou para trás.
Descrevendo pela sombra, o que se vê através do signo da foto, vem-me à
lembrança o que escreveu Houser (1997:9) sobre os modos de interpretação da lógica
concentrada na ”gramática especulativa, que investiga relações de representação”.
A foto e a sombra revelam as “condições necessárias e
suficientes da representação, e classifica os diferentes tipos de
interpretação”. A forma conjuntural da política é um bom índice. Mas o que podemos
citar também, em relação à atual situação em que se encontra o governo, é que o
efeito provocado pelo o que foi perdido não será alcançado em uma simples
pedalada nos arredores do Palácio. E pedalada é um assunto que, para alguns, pode
ser o fim do mandato. E, talvez, a gordura aqui, não é bem quista, mas pode
fazer falta. Ou não. E não adianta meter a língua em causa própria. A política tem
dessas coisas e poucos sabem disso.
Sem querer esgotar o assunto, pois o trabalho de
interpretação é fragmentado, não é a intenção buscar uma resposta sobre a imagem
numa desconstrução do discurso promissivo. Mas, convenhamos, na política, é
quase um consenso orquestrado que a sobrevivência depende de ajustes, da condução
do jogo, de saber adequar seus comportamentos às modificações do ambiente. A silhueta
já não e mais a mesma. Sabe-se disso. A
reação pode ter vindo tarde, mas recuperar o que foi perdido pode não ser bom
para a saúde, não é? E alguma coisa foi feita, e precisava, já que nos
primórdios da República, muita coisa não chegou, tão pouco causou: signo, ícone,
índice e símbolo. Estou falando de corrupção, que pode estar na fila do banco,
sabia?
É perceptível que, mesmo diante da gramática
especulativa, o signo deixado como sinal de umdesignatum
produziu um determinado efeito ou suscitou uma determinada resposta
interpretante. Temos um significado de um partido do governo que não segue
ajustado. Assim como a sombra deixada depois da dieta milagrosa. A agenda ficou
perdida e, por detrás da “deterioração“ tão esperada,
está uma estabilização econômica, aliados momentâneos (trabalhando ativamente)
e frentes partidárias configuradas apenas em dois partidos na busca unilateral
do próximo pleito. O desgaste entre a
bandeira da legenda também se refere à semiose deixada.
E vale lembrar que no cerume do mundo político,
ninguém sobrevive sem articulação política. É só consultar os partidos que
pulsam num fôlego subversivo, desde 1964, resultado da extinção de legendas com
o Al-2, que permeia no sistema democrático com ânsia do bote final. Mesmo com um currículo (o significado) sem
muita coerência. Mas é o que temos pra
hoje. E, na atualidade, estão lado a lado ou à sombra de Ravenna, da figura
principal.
No painel político, até o recesso parlamentar, muita
sombra passará por perto. E para quem anda sozinho, com o espectro mais
contido, a palavra para voltar a ter o controle do poder de agenda, coisa
difícil, é salvar a si mesmo.
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