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Sob rumores de estar negociando sua delação premiada, ex-ministro Antônio Palocci faz revelações que incrimina o ex-presidente Lula e diz que o petista tinha uma conta de propinas com a Odebrecht e que sabia da corrupção na Petrobras


Imagem do depoimento em vídeo disponibilizado pela JFPR

Menos de quatro meses após ter sido interrogado pelo o juiz Sérgio Moro, o ex-ministro Antônio Palocci  (Fazenda e Casa Civil), muda o posicionamento com com o PT e, diz que a relação entre o governo do petista e a Odebrecht foi “movida a propina” em troca de vantagens para a empresa, e que o ex-presidentes Luis Inácio Lula a Silva, e Dilma Roussef sabiam das relações indevidas com a empreiteira. O interrogatório de duas horas realizado neste quarta-feira (6), na sede da Justiça Federal no Paraná, faz parte da ação criminal com oito  réus, do inquérito que apura o pagamento de R$ 12 milhões de propina da Odebrecht para o ex-presidente na forma de um apartamento e na compra de um terreno onde seria construída a nova sede do Instituto Lula.



Neste processo, o Ministério Público Federal (MPF) afirma que o Grupo Odebrecht comprou um terreno no valor de R$ 12,4 milhões para a construção do Instituto Lula — obra que não chegou a ser executada. Ainda segundo á denúncia, o ex-presidente também recebeu como vantagem indevida da empreiteira uma cobertura vizinha ao apartamento onde mora, em São Bernardo do Campo. O petista nega. 



Nas revelações que incrimina Lula, Palocci confirmou a denúncia do MPF e disse ainda sobre uma reserva para o Partido dos Trabalhadores, como parte de um pacote maior para melhorar a relação com o governo Dilma, pois havia uma desconfiança da Odebrecht quanto à eleição dela. E que o próprio Lula disse a ex-presidente para manter o bom relacionamento com a empreiteira. 

“Nessa reunião, o presidente Lula leva Dilma, presidente eleita, para que ele diga a ela das relações que ele tinha com a Odebrecht e que ele queria que ela preservasse o conjunto daquelas relações em todos os seus aspectos, lícitos e ilícitos”, contou Palocci. Questionado se participou dessa reunião, mas que ficou sabendo dela através de Lula. Nesta época ele só era deputado. 

Palocci narrou como foi a reunião que teria ocorrido no dia 30 de dezembro de 2010 entre Lula e Emílio Odebrecht, dono da empreiteira, no qual ficou selado, denominado por Palocci como um "pacto de sangue", "pacote de propina", entre Lula e Emílio, que envolviam: o terreno para o Instituto Lula, o sítio para uso da família do ex-presidente, além de R$ 300 milhões de reserva. Tendo o ex-presidente Lula a ciência que se tratava de dinheiro indevido.

“Eu queria dizer, a princípio, que a denúncia procede. Os fatos narrados nela são verdadeiros. Eu diria apenas que os fatos narrados nessa denúncia dizem respeito a um capítulo de um livro ainda maior de um relacionamento da Odebrecht com o governo do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma, que foi uma relação bastante intensa, bastante movida a vantagens dirigidas à empresa, a propinas pagas pela Odebrecht para agentes públicos em forma de doação de campanha, em forma de benefícios pessoais, em forma de caixa 1 e caixa 2”, disse Palocci ao iniciar o depoimento. “E eu tenho conhecimento porque participei de boa parte desses entendimentos na qualidade de ministro da Fazenda do presidente Lula e ministro da Casa Civil da presidente Dilma”.


Galeão
Pouco mais de 30 minutos do vídeo, Palocci também afirmou  ao juiz Sérgio Moro que a Odebrecht, foi beneficiada na licitação do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Benefício foi para compensar a empreiteira pela perda da concorrência anterior.

Petrobras
Palocci disse ainda que Lula sabia do esquema de corrupção na Petrobras e, em algum momento, chegou a demonstrar preocupação com isso e tomaria uma providência porque estava repercutindo de uma forma muito negativa.

“Em 2007, o presidente Lula senta comigo e fala: ‘tenho ouvido falar que a diretoria de serviços, a diretoria internacional, a diretoria de abastecimento está tendo muita corrupção. Isso é verdade?’ Eu disse, isso é verdade. Eu sabia sim. E ele sabia também. Ele estava preocupado com isso”, disse Palocci.

Segundo o ex-ministro, os diretores da Petrobras Jorge Zelada, Paulo Roberto Costa e Renato Duque não foram colocados nos cargos para fazer arrecadação de recursos para partidos, mas a operação começou em seguida.

“Os conheci por currículo e eles tinham currículos extremamente capacitados para função. Não acredito que tenham sido indicadas para isso, mas que logo começou a se estabelecer essa relação”, explicou. No entanto, acrescentou que Zelada foi uma exigência do PMDB, que tinha parado de votar com o governo porque queria a diretoria internacional.


O ex-ministro detalhou, ainda, como as diretorias da Petrobras foram divididas entre os três principais partidos que compunham o governo durante as administrações petistas. “Na Diretoria de Serviços, [ficou] o PT, na Diretoria Internacional, o PMDB, e na Diretoria de Abastecimento, o PP. Desenvolveu-se uma relação de intenso financiamento partidário de políticos, pessoas, empresas. Esse foi um ilícito crescente na Petrobras, até porque as obras cresceram muito e, com elas, os ilícitos”, disse.


No depoimento revelador, o ex-ministro dos governos Lula e Dilma, disse que os agentes públicos que receberam propina da Odebrecht "em forma de doação de campanha, como benefícios pessoais, de caixa um, caixa dois", e que ele mesmo pediu em 2012, 2013, dinheiro para para Marcelo Odebrecht para cobrir um buraco nas contas do Instituto Lula. Recurso chegou a R$ 4 milhões. 



"O Marcelo concordou em dar, falou que tinha disponibilidade. Pedi ao Brani [Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci] para transmitir ao Paulo Okamotto que seriam dados os R$ 4 milhões que ele havia pedido."


Antônio Palocci revelou também que ele e  Lula atuaram para tentar impedir o andamento da operação Lava-Jato. E confirmou que ele seria o "Italiano", nome intitulado na planilha de repasses da Odebrecht.

No início da semana, na abertura das oitivas neste processo, o ex-presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, reafirmou que a planilha intitulada "Italiano" localizada pela Polícia Federal no Setor de Operações Estruturadas da empreiteira é referente a pagamentos não contabilizados ao Partido dos Trabalhadores (PT) por meio do ex-ministro Antônio Palocci. Ele também ratificou depoimentos anteriores ao afirmar que o codinome "Amigo" nas planilhas se refere ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.



Veja na íntegra o depoimento de Palocci:


Após o depoimento,  ex-ministro Antônio Palocci voltou para a prisão, onde cumpre pena no Paraná. Ele foi  preso em  setembro do ano passado e já tem uma condenação a 12 anos de prisão na operação Lava Jato por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. 

Outro lado
A defesa do ex-presidente  Lula disse  que Palocci fez "acusações falsas e sem provas" e que toda sua mudança de postura contraditórias está ligada a uma negociação de delação com Ministério Público.E que tudo ficará esclarecido, já que o ex-presidente prestará o seu depoimento no dia  13 de setembro.

Veja mais aqui: 

O Instituto Lula, em sua página no Facebook, divulgou uma nota em que diz que o depoimento de Antonio Palloci é contraditória “ com outros depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e provas e que só se compreende dentro da situação de um homem preso e condenado em outros processos” e que busca negociar com o MPF e com o juiz Sérgio Moro um acordo de delação premiada “que exige que se justifique acusações falsas e sem provas contra o ex-presidente Lula”.

“Palocci repete o papel de réu que não só desiste de se defender como, sem o compromisso de dizer a verdade, valida as acusações do Ministério Público para obter redução de pena e que no processo do tríplex foi de Léo Pinheiro”, diz a nota.

A nota também diz que a acusação do Ministério Público usa o argumento de que o terreno teria sido comprado com “com recursos desviados de contratos da Petrobrás” só para poder ser julgado dentro do âmbito da Operação Lava Jato pelo juiz Sérgio Moro e que “não há nada no processo ou no depoimento de Palocci que confirme isso”. Também cita que Palocci falou de uma série de reuniões onde “não estava e de outras onde não haveriam testemunhas de suas conversas. Todas falas sem provas.”

O Instituto Lula reafirma, na nota, que jamais solicitou ou recebeu qualquer terreno da Odebrecht e que nunca teve outra sede além daquela em que instituto funciona atualmente. Lula reafirmou que “jamais cometeu qualquer ilícito nem antes, nem durante, nem depois de exercer dois mandatos de presidente da República eleito pela população brasileira.”

Em nota divulgada na quinta-feira (7) à imprensa, a assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff classifica as declarações do ex-ministro como "mentira" e "ficção". "Todo o conteúdo das supostas conversas descritas pelo senhor Antonio Palocci com a participação da então ministra Dilma Rousseff – e mesmo quando ela assumiu a Presidência – é uma ficção. Esta é uma estratégia adotada pelo delator em busca de benefícios da delação premiada", diz a nota.

Sobre as regras para concessão de aeroportos no país, que podem ser conferidas no vídeo, a nota esclarece que a decisão do governo Dilma de não permitir que um consórcio ou empresa ganhasse mais de um aeroporto foi criada para gerar concorrência entre as empresas concessionárias de aeroportos: 


"Buscou-se evitar que, caso uma empresa tivesse a concessão de dois aeroportos, priorizasse um em detrimento do outro. O governo Dilma buscava atrair mais empresas para participar do sistema aeroportuário, garantindo que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), como órgão regulador, tivesse mais parâmetros para atuar"






*Com: Agência Brasil e Reuters







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